quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O perigo da indiferença


"Hoje a minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo: "Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos." Isso não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem."

Meursault vive vazio de emoções, incapaz de sentir amor, saudade, ódio, medo, ou qualquer outra emoção. A sua vida vai-se desenrolando como se ele fosse um estrangeiro, não em relação a um país, mas em relação à humanidade. No fim
o crime que comete não o leva ao fim da sua vida, o que leva ao seu fim é a falta de qualquer emoção aquando da morte da sua mãe. Mostrando-nos Camus que tudo o que fazemos num determinado momento se reflecte durante o resto da nossa vida.

A narrativa começa quando ele recebe um telegrama comunicando o falecimento da mãe, que seria enterrada no dia seguinte. Ele viaja então ao asilo onde ela morava e comparece à cerimónia fúnebre, sem, no entanto, expressar quaisquer emoções, não sendo praticamente afectado pelo acontecimento. O romance prossegue, documentando os acontecimentos seguintes na vida de Meursault que forma uma amizade com um dos seus vizinhos, Raymond Sintès, um conhecido chulo. Ele ajuda Raymond a livrar-se de uma de suas amantes árabes. Mais tarde, os dois confrontam-se com o irmão da mulher ("o árabe") em uma praia e Raymond sai ferido de zaragata com facas. Depois disso, Meursault volta à praia e, num delírio induzido pelo calor e pela luz forte do sol, dispara uma vez para o árabe causando sua morte e depois dá mais quatro tiros no corpo já morto.

Durante o julgamento a acusação concentra-se no facto de Meursault não conseguir ou não ter vontade de chorar no funeral da sua mãe. O homicídio do árabe é aparentemente menos importante do que o fato de Meursault ser ou não capaz de sentir remorsos; o argumento é que, se Meursault é incapaz de sentir remorsos, deve ser considerado um misantropo perigoso e consequentemente executado para prevenir que repita os seus crimes, tornando-o também num exemplo.

Quando o romance chega ao final, Meursault encontra o padre da prisão e fica irritado com sua insistência para que ele se volte a Deus. A história chega ao fim com Meursault reconhecendo a indiferença do universo em relação à humanidade. As linhas finais ecoam essa ideia que ele agora toma como verdadeira:


"Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu abria-me pela primeira vez à eterna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida comigo mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio."

O Estrangeiro, Albert Camus.

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Olá. Chamo-me Maria. Obrigado por visitar meu cantinho de luxos! Sou fashionista desde que me lembro e este é o meu blog. É um blog sobre estilo, sobre a vida, sobre o meu trabalho e sobre tudo o que me inspira a criar. Sou do Porto e nasci em 87. Sou dinâmica e sonhadora e para além da moda tenho uma empresa de Cake Design. Já criei outras como a Kitsune Sucrée de consultoria de imagem e o Vila Real Canal, um canal de tv online. Estudei Design na Faculdade de Belas Artes do Porto e Gestão Hoteleira na Escola de Hotelaria e Turismo do Porto. Sou também uma entusiasta dos trabalhos manuais, ilustradora e escritora de romances e livros infantis.